História da Associação Karate-Do Tanaka: Parte I – Shikan Akamine, ABK e primeiros passos

Tsunioshi Tanaka e Seiichi “Shikan” Akamine

A Associação Karate-Do Tanaka é uma das organizações de Karate mais antigas do Brasil. Também é umas das mais longevas, atrás talvez apenas da Shinshukan, do mestre Yoshihide Shinzato, fundada um ano antes, em 1962. Por sua trajetória de pioneirismo, determinação e fidelidade aos valores do Karate, a história da nossa escola precisa ser amplamente conhecida e reconhecida. Muitos professores de Karate atuantes hoje em dia, mesmo estando em outros estilos como Shotokan, Kyokushin e Seido Juku, começaram sua trajetória em nossa organização ou em dojos filiados, o que só comprova a importância da Associação para o Karate brasileiro.

Evidentemente, o principal crédito dessa frutífera trajetória é do fundador da Associação Karate-Do Tanaka, Tsunioshi Tanaka (Lins, 1934 — São Paulo, 2017), que dedicou mais de cinco décadas ao estudo, prática, ensino e divulgação do Karate. Era filho de Masayoshi Tanaka e Tomo Tanaka, imigrantes japoneses da cidade de Masuda, na província de Shimane, que desembarcaram com familiares no porto de Santos em 1931 para trabalhar na lavoura no interior de São Paulo. Era o segundo entre seis irmãos. Aprendeu os valores cultivados nas artes marciais primeiro com seu pai, que foi instrutor de Kendo em sua terra natal, e implementou esses valores ao longo de toda sua vida.

Juichi Sagara

A história da Associação Karate-Do Tanaka começa no início dos anos 60, período em que alguns mestres pioneiros do Karate, recém-chegados do Japão, estavam dando os primeiros passos para difundir sua arte marcial. Nesta mesma época, Tsunioshi Tanaka atuava na profissão de relojoeiro e tinha uma loja no bairro Vila Prudente, em São Paulo/SP. Certo dia, em 1962, foi visitado em sua loja por um japonês que vendia bibelôs e que o convidou para treinar Karate. Essa pessoa era o saudoso mestre de Shotokan Juichi Sagara (Tóquio, 1934 — São Paulo, 2001).

Diante do convite, Tanaka ficou apreensivo com a possiblidade de machucar os dedos em um treino de Karate, já que sua profissão na manutenção de relógios ficaria prejudicada nesse caso, mas Sagara garantiu que não haveria problema. Então nosso mestre fez algumas aulas com Sagara Sensei e chegou até a ajudá-lo a reunir membros para sua organização. Por conta de alguns percalços, Tanaka não seguiu como aluno de Sagara e acabou indo treinar de fato sob a orientação de outra importante figura do Karate brasileiro: o mestre Shikan Akamine (Naha, 1920 — São Paulo, 1995).

Natural de Okinawa, Seiichi Akamine (nome artístico em japonês Yoshitaka ou em chinês Shikan) é considerado o introdutor do estilo Goju-Ryu no Brasil, apesar de ter um currículo um pouco diferente das escolas mais tradicionais dessa linhagem. Algumas fontes dizem que ele teve contatos com mestres da linhagem Shuri-Te, como Chomo Hanashiro, Kentsu Yabu e Chotoku Kyan; além de ter treinado com Seiko Higa, Kanki Izumikawa e Kanbun Uechi. Também tinha amizade com Seiken Shukumine (Gensei-Ryu). Além de seu legado ter continuidade em escolas de Goju-Ryu, como a Ken In Kan, há discípulos que mantiveram um estilo criado por Akamine, conhecido como Shikan-Ryu ou Kenshin-Ryu.

Mestres Hanashiro, Yabu, Kyan, Higa, Izumikawa e Uechi

Akamine havia fundado, em 1959, a primeira escola de Karate legalmente estabelecida no País, a Associação Brasileira de Karate (ABK), que tinha sede da Rua Tabatinguera, no bairro da Sé, centro de São Paulo. Neste local, ocorreu uma reunião com Tanaka e uma comitiva de interessados em iniciar um dojo na Vila Prudente. No encontro, ficou acertado que um dos alunos da ABK, Sadao Saito (falecido em 1992), ficaria responsável pelos treinos regulares do novo grupo, sob supervisão de Akamine.

Sadao Saito (3º em pé da esquerda para direita) e alunos da Associação Paulista de Karate

Outros membros da ABK também participaram das aulas e eventos desse dojo que estava sendo criado, como Sergio Yanagizawa e Ryuzo Watanabe. Inicialmente os treinos eram feitos em um salão dentro de um depósito da fábrica de bebidas Antarctica, localizado na Rua Coelho Neto. Posteriormente, foi alugado um espaço definitivo, na Rua Capitão Pacheco e Chaves, nº 1.063, que até hoje é nosso Hombu Dojo.

Entusiasmado com os treinos do Karate, Tsunioshi Tanaka, juntamente com vários membros com as quais já vinha praticando, fundaram oficialmente em 23 de maio de 1963 a Associação Paulista de Karate, vinculada à ABK. Anos depois a Associação Paulista seria renomeada Associação Karate-Do Tanaka.

Shikan Akamine e membros da ABK

O dojo foi se desenvolvendo ao longo dos meses. Em relatos dessa época, mestre Tanaka contava que em muitas ocasiões o professor Sadao Saito, quando não podia comparecer, pedia para que ele comandasse os treinos. Essa responsabilidade o ajudou a se desenvolver rápido e o motivou a praticar com afinco.

No final de 63, graças a sua dedicação aos treinos, o mestre Tanaka foi promovido a faixa-preta shodan pelo mestre Akamine. Tanaka Sensei afirmava que na época não considerou sua graduação um motivo de comemoração, pois entendia que tinha muito a estudar e aprender, então tomou isso como uma motivação para se empenhar ainda mais no Karate. Esse traço de sempre querer se aprofundar e compreender sua arte marcial foi determinante para os rumos da Associação.

Tsunioshi Tanaka recebe a faixa-preta

Aparentemente por motivos políticos, em 1964 o mestre Shikan Akamine foi desligado da Associação Brasileira de Karate. Em solidariedade a ele, nosso mestre Tsunioshi Tanaka e demais membros da Associação Paulista de Karate decidiram também se desligar dessa entidade.

Primeiro aniversário da Associação Paulista de Karate (1964)

Com a saída da ABK, Tanaka procurou caminhos para seguir desenvolvendo seu Karate e seu dojo.  Ainda em 1965, ele entrou contato com o mestre Masutatsu Oyama, fundador do estilo Kyokushin, o que iniciou uma nova e crucial fase da Associação Paulista de Karate, que será abordada no próximo artigo sobre a história da nossa organização.


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